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sábado, 19 de fevereiro de 2011

É presidenta, sim!

 O Brasil ainda está longe da feminização da língua ocorrida em outros lugares. Dilma Rousseff adotou a forma “presidenta”, que assim seja chamada.




Se uma mulher e seu cachorro estão atravessando a rua e um motorista embriagado atinge essa senhora e seu cão, o que vamos encontrar no noticiário é o seguinte: “Mulher e cachorro são atropelados por motorista bêbado”. Não é impressionante? Basta um cachorro para fazer sumir a especificidade feminina de uma mulher e jogá-la dentro da forma supostamente “neutra” do masculino.

Se alguém tem um filho e oito filhas, vai dizer que tem nove filhos. Quer dizer que a língua é machista? Não, a língua não é machista, porque a língua não existe: o que existe são falantes da língua, gente de carne e osso que determina os destinos do idioma. E como os destinos do idioma, e da sociedade, têm sido determinados desde a pré-história pelos homens, não admira que a marca desse predomínio masculino tenha sido incrustada na gramática das línguas.

Somente no século 20 as mulheres puderam começar a lutar por seus direitos e a exigir, inclusive, que fossem adotadas formas novas em diferentes línguas para acabar com a discriminação multimilenar.

Em francês, as profissões, que sempre tiveram forma exclusivamente masculina, passaram a ter seu correspondente feminino, principalmente no francês do Canadá, país incomparavelmente mais democrático e moderno do que a França.


Em muitas sociedades desapareceu a distinção entre “senhorita” e “senhora”, já que nunca houve forma específica para o homem não casado, como se o casamento fosse o destino único e possível para todas as mulheres. É claro que isso não aconteceu em todo o mundo, e muitos judeus continuam hoje em dia a rezar a oração que diz “obrigado, Senhor, por eu não ter nascido mulher”.

Agora que temos uma mulher na Presidência da República, e não o tucano com cara de vampiro que se tornou o apóstolo da direita mais conservadora, vemos que o Brasil ainda está longe da feminização da língua ocorrida em outros lugares.

Dilma Rousseff adotou a forma presidenta, oficializou essa forma em todas as instâncias do governo e deixou claro que é assim que deseja ser chamada.

Mas o que faz a nossa “grande imprensa”? Por decisão própria, com raríssimas exceções, como CartaCapital, decide usar única e exclusivamente presidente.

E chovem as perguntas das pessoas que têm preguiça de abrir um dicionário ou uma boa gramática: é certo ou é errado? Os dicionários e as gramáticas trazem, preto no branco, a forma presidenta. Mas ainda que não trouxessem, ela estaria perfeitamente de acordo com as regras de formação de palavras da língua.

Assim procederam os chilenos com a presidenta Bachelet, os nicaraguenses com a presidenta Violeta Chamorro, assim procedem os argentinos com a presidenta Cristina K. e os costarricenses com a presidenta Laura Chinchilla Miranda. Mas aqui no Brasil, a “grande mídia” se recusa terminantemente a reconhecer que uma mulher na Presidência é um fato extraordinário e que, justamente por isso, merece ser designado por uma forma marcadamente distinta, que é presidenta.



O bobo-alegre que desorienta a Folha de S.Paulo em questões de língua declarou que a forma presidenta ia causar “estranheza nos leitores”. Desde quando ele conhece a opinião de todos os leitores do jornal? E por que causaria estranheza aos leitores se aos eleitores não causou estranheza votar na presidenta?

Como diria nosso herói Macunaíma: “Ai, que preguiça…” Mas de uma coisa eu tenho sérias desconfianças: se fosse uma candidata do PSDB que tivesse sido eleita e pedisse para ser chamada de presidenta, a nossa “grande mídia” conservadora decerto não hesitaria em atender a essa solicitação. Ou quem sabe até mesmo a candidata verde por fora e azul por dentro, defensora de tantas idéias retrógradas, seria agraciada com esse obséquio se o pedisse.

Estranheza? Nenhuma, diante do que essa mesma imprensa fez durante a campanha. É a exasperação da mídia, umbilicalmente ligada às camadas dominantes, que tenta, nem que seja por um simples – e no lugar de um –a, continuar sua torpe missão de desinformação e distorção da opinião pública.
Escrito por Marcos Bagno, professor de Linguística na Universidade de Brasília.

Publicado originalmente na revista Carta Capital

Votação do Salário Mínimo e hipocrisia

A hipocrisia é uma característica humana bem presente em disputas de poder. O comportamento dos deputados na votação do Salário Mínimo, nesta semana, mostrou como o jogo político é feito.

O PMDB votou fiel ao governo, com todos os seus deputados. Traição zero. Para que? Para obter um monte de cargos ainda não preenchidos no governo.O PT teve 10 deputados que não votaram com o governo. É menos fiel ao governo do que o PMDB? Parece que não por ter estes 10 deputados sempre brigado pela defesa dos trabalhadores, terem origem sindicalistas. Eles estariam traindo a sua base eleitoral se não votassem na proposta da Central Única dos Trabalhadores de um Salário Mínimo de R$ 560,00.

O PDT que dirige o Ministério do Trabalho passou apertado. Mais de 25% dos seus deputados queriam um valor maior e votou contra a proposta do governo. A Força Sindical que boa parte segue cobrou deles alguma coerência. Ou eles seguiam o governo ou sua base eleitoral.

Os tucanos e os demos que tanto brigam pelo Salário Mínimo de R$ 600,00 não aprovam nas suas prefeituras nem nos seus governos este valor. Somente São Paulo banca valor igual e até maior.

O venerável senador de Minas, Aécio Neves, nunca bancou salário maior que o mínimo, quando foi governador por aqui. Agora, comanda seus deputados para exigir do governo federal o que ele não garante no seu quintal.

Então, ele poderia sugerir para o Anastasia para enviar à Assembléia projeto semelhante ao que ele defende.

“Nós, prefeitos, ficamos de cabelo em pé quando ouvimos pessoas que defendem o mínimo de R$ 600. Alguns estados mais ricos até podem arcar com este valor, mas seria um aumento incompatível para a maior parte do país. Em Minas, por exemplo, não temos condições de manter este teto, as prefeituras teriam um desequilíbrio em suas contas e podem até ter que demitir funcionários para não quebrar a Lei de Responsabilidade Fiscal”, explica José Milton (PSDB), presidente da Associação Mineira de Municípios e prefeito de Conselheiro Lafayete.

Olha bem quem dá essa declaração. É a maior liderança tucana dos municípios de Minas.

E se houver uma proposta de R$ 600 para o Salário Mínimo em Minas, como os deputados aecistas irão votar?

Estados ricos podem pagar R$ 600? E Minas é pobre? Disputa com o Rio de Janeiro o 2º PIB - Produto Interno Bruto do país. O salário mínimo do Rio, em 2010, foi de R$ 581,88.

Minas pobre é pras bandas do Jequitinhonha e Mucuri, onde esses mesmos governantes não tem a hombridade de investir.